sábado, 1 de maio de 2010

Vencem-nos as paixões


Há quase um ano que nada é postado nesse blog. Não que haja nada que valha a pena de mencionar: tantas são as coisas dignas de compartilhar, mas escasso é o tempo livre para encarar a folha em branco (substituída pelo formulário - também em branco - das postagens de um blog).

Vontade não faltou nos últimos dias: o excelente e circense show de Tom Zé que lança o seu dvd O Pirulito da Ciência, o vazio ante o filme A Estrada, de John Hillcoat, e os últimos dois livros lidos - Nas Tuas Mãos, da fantástica Inês Pedrosa, e o instigante Indignação, do americano Philip Roth. Mas o que traz até o blog é o filme argentino "El secreto de sus ojos", ganhador - merecido - do oscar de melhor filme estrangeiro (confesso que A Fita Branca, o favorito, ficou aquém de minha expectativa).

A paixão que vence, persegue e aprisiona cada um de nós: saí do cinema pensando nisso. Numa mistura de policial, comédia e drama, o segredo dos olhos de cada uma dos personagens, o que importa enfim, é a sua grande paixão. Não dá para contar muito sem estragar surpresas, mas são as paixões que movem (e que paralisam) cada um dos personagens do filme de Campanella: o protagonista que não se liberta de sua paixão da juventude, o colega apaixonado pela embriaguez, o juiz apaixonado por si próprio, o assassino apaixonado pela vítima, o viúvo obcecado pela ex-mulher.

Engrosso a vox populi: o cinema argentino é, de longe, mais sofisticado e muito mais bem feito do que o nosso ainda incipiente cinema nacional, tão preso às questões sociais. Não é à tôa que enquanto o Brasil é o país do futebol, o vizinho, dizem, é o segundo país do mundo em quantidade de psicanalistas por habitantes. As questões de O Segredo de seus olhos, embora passem (passem mesmo - en passant, eu diria) pela repressão na época da ditadura, são muito mais universais e humanas. Que paixões escondem o segredo dos nossos olhos?