
Cassandra foi uma fascinante jovem que recebeu de presente do encantado deus Apólo o segredo das profecias. Mas Cassandra recusa-se a fazer amor com Apólo, e é punida com uma terrível maldição: embora pudesse ver o futuro, ninguém jamais acreditaria em suas previsões.
Para narrar a tragédia quase grega, ambientada numa Inglaterra menos burguesa do aquela de Match Point, Woody Allen convoca Collin Farrell e Ewan McGregor, que vivem os irmãos Terry e Ian. O primeiro é um looser convicto, conformado com seu fracasso. Ele não é o "cerébro", e sabe disso. Para compensar suas angústias, joga, bebe e é viciado em remédios. Ian, por sua vez, é ambicioso e inconformado com o futuro que parece certo: cuidar do restaurante do pai, quase falido. Para completar o quadro familiar, Allen apresenta um pai absolutamente fracassado e uma mãe encantada pelo irmão bem-sucedido, em cuja sombra todos eles vivem.
E a história começa de forma inusitada: os dois irmãos decidem comprar um veleiro. Mas loosers compram veleiros? Só se o veleiro for um prenúncio da tragédia que está por vir. E é aí que Allen começa a brincar com as histórias da antiguidade clássica e batiza o barco de "O Sonho de Cassandra".
Daí em diante, é o Woody Allen fatalista que já conhecemos. E com componentes que misturam o mito de Cassandra ao clássico "Crime e Castigo", de Dostoiévski, já que o tio bem-sucedido encomenda um assassinato aos sobrinhos, que terão que suportar a culpa do crime. Você já viu esse filme? Sim. Match Point e Scoop também têm como elemento desencadeador uma morte. Mas aqui há uma novidade: se as nossas ações são irrevogáveis, o que fazer com a culpa inevitável aos que cruzaram a linha do seu próprio limite?
Vale a pena rever Woody Allen repetindo temas já abordados em filmes anteriores? Ele sempre repete - e sempre vale. A ausência do personagem constante, que ele próprio vivencia em muitos de seus filmes, é compensada por interpretações formidáveis de Ewan McGregor e Collin Farrell, em plena sintonia. E por um roteiro que consegue reerguer a trama múltiplas vezes e produzir três momentos de clímax. Digno de Woody Allen.
2 comentários:
Já vi que compartilhamos uma paixão: CINEMA. Estou colocando sua página na lista de blogs que visito. O assunto me fascina e gostei muito do texto. Um abraço!
Legal, Pedro. Terminei de fazer o post de hoje e vi que tinha comentado no anterior. Ficamos nos "vendo" e nos "falando". rs
Abraço
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