sábado, 29 de agosto de 2009

Televisão e Youtube

Jaqueline Carvalho, a professora primária demitida por dançar o "Todo Enfiado", vai ao Programa Geral do Brasil.

Constrangimento total: veja o vídeo aqui.


Heroína contra o moralismo

Pobre do pais que precisa de heróis, dizia Bertold Brecht. Necessários, porém, surgem heróis repentinamente e a todo o tempo. E como cada época tem o herói que merece, foram-no, um dia, Marthin Luter King, Mandela, e tantos outros. A mais nova heroína simplesmente dançou o "todo enfiado" ("tem mulher que usa P, tem mulher que usa M, tem mulher que usa G...") e, na tarde de ontem, já estava num sofrível programa vespertino, "prestando esclarecimentos à sociedade".

Essa mulher, contudo, fez mais do que dançar o todo enfiado: ela incorpora o herói (ou simplesmente um bode expiatório da coletividade). Jaqueline vai ao programa "Geral Do Brasil" enfrentar o falso moralismo de uma nação católica "não praticante". Com suas pequenas (e por vezes mórbidas) transgressões, todos somos alvo, no nosso íntimo, da moral da sociedade. E todos formamos o nosso próprio inimigo. Bons canibais (vitimados pela moral, somos parte parte integrante dela) olhamos para Jaqueline, a dançarina do todo enfiado, e ela nos diz: "todos têm direito de errar, mas não têm direito de julgar". Jaqueline, uma pecadora apedrejada, está arrependida. E vai ao Geraldo Brasil para pedir perdão à moral, à sua própria moral. E a moral, coletiva, assiste ao programa, e goza.

Jaqueline, discreta, poderia calar-se e seguir a sua vida. Aproveitadora ("esperta", diriam), poderia posar a revista Sexy, virar uma nova celebridade instantânea e ganhar, em 15 minutos, o que alguns não terão ao longo da vida. Ingênua - porém - Jaqueline se vende por alguns mirréis (ou nem se vende), vai a um programa vespertino apelativo ("esperto", diriam) e dá a cara para bater. No júri popular, dois especialistas em moral: um humorista de segunda e um fofoqueiro televisivo (ocasionamente fora do ar). Prestando testemunho, o cantor do hit "todoenfiado".

A professora pós-graduada - ré - não concorda números nem verbos, e diz que "eu posso?" tem sujeito indeterminado. O presidente do julgamento diz que o país é demagogo e reduz a cultura musical da Bahia à "boquinha da garrafa". A testemunha (cantor nas horas ocupadas) agradece aos veículos de comunicação da Igreja Universal, que estão apoiando a luta da professora-dançarina, e aproveita para divulgar a sua agenda de shows.

Ela diz que "errou, assumiu o erro e vai dar a volta por cima". Declara-se culpada e aguarda o julgamento, suplicando um perdão. Jaqueline Carvalho, exclusivo para o Geral do Brasil. Uma heroína legítima. Lamentável.

2 comentários:

Diego Mendes disse...

Macunaíma disfarçado de professora.

Patty Seoane disse...

Saudades muitas Peuzinho... qnd vier a Bahia avisa a essa sua amiga pretinha do coração, viu?? huahuahuau bjssss