domingo, 6 de abril de 2008

Crítica: Domingo no TCA - projeto Neojibá



"Infeliz é o povo que precisa de heróis", dizia Bertold Brecht. E também o é aquele cujas instituições enfraquecidas soam falsas e protocolares. Eis o que aconteceu na Bahia nos anos de carlismo, e que agora, ao que parece, tenta-se reconstruir. Não sem grande esforço.

Emocionante assistir ao concerto da Orquestra Juvenil Dois de Julho no último domingo, no Teatro Castro Alves. A primeira emoção fica por conta de Beethoven, Stravinsky, Arturo Marquez, Saint-Saens, Bizet e Rossini, executados pelos jovens músicos do projeto, regidos pelo maestro Ricardo Castro, gestor da OSBA. A segunda, é a constatação de que é viável - e bom - construir instituições sólidas, em todas as áreas, inclusive na cultura.

O TCA dirigido por Moacir Gramacho serviu de espaço, no último ano, para grandes espetáculos. A Orquestra Sinfônica está trabalhando, e se apresentando. E a surpresa do projeto Neojibá, do qual faz parte a Orquestra Juvenil Dois de Julho, dá indicativos de que a gestão cultural de Márcio Meirelles está indo por um bom caminho, superando as frustrações iniciais, talvez de fato necessárias.

Mas as nossas instituições - que lástima! - quase não existem. Assim como os hospitais públicos, a polícia e o judiciário, a cultura também está envolta na aura da falsidade resultado de anos de descaso com o público, e priorização do marketing. Importava vender a Bahia - aos baianos e não-baianos - como terra maravilhosa. E o que acontecia aqui (acontecia algo?) pouco importava. Pelo visto, não foi uma boa idéia acumular o turismo e a cultura numa mesma secretaria: hoje é claro que os governos anteriores falharam nas duas áreas. E espera-se que não aconteça o mesmo com o atual.

E tudo isso é para falar do concerto da orquestra juvenil? Sim. Isso porque o concerto fez parte do projeto do "Domingo no TCA", que abre as portas do teatro à população, com ingressos a 1 real. E como nossas instituições não são sólidas, como o povo nunca foi ao teatro, como aquele espaço é estranho a grande parte do público, a falta de educação é generalizada. Acontece de tudo: criança que chora, a outra que grita, mais uma que sai correndo pelas escadas do teatro. A mãe que ri dos filhos "pintões". O jovem que aplaude em meio à execução dos movimentos. O outro que se levanta e vai cumprimentar o maestro ao longo da apresentação.

Formação de platéia é difícil. Mas a gente precisa. E quer: o teatro estava cheio no concerto da Orquestra Juvenil Dois de Julho. E esteve na estréia do projeto, com o excelente show de Jussara Silveira e Luiz Brasil. E certamente estará na próxima, em que se apresentará a Orquestra Rumpilezz, do Maestro Letieres Leite. Valorizemos a nossa cultura.

Para saber do que estou falando: http://neojiba.blogspot.com
(foto retirada do blog do Neojibá)

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