domingo, 30 de março de 2008

Crítica de cinema: Angel


Conto de fadas para adultos

François Ozon, diretor de Oito Mulheres e Swimming Pool, opta por melodrama em "Angel"

Angel é a jovem talentosa e criativa, menosprezada pela professora e pelos colegas de uma pequena cidade no interior da Inglaterra. Em nome dos clichês, é filha da dona da mercearia, que obviamente não acredita na possibilidade de Angel tornar-se uma escritora. A jovem sonha em morar na Mansão Paraíso, casa burguesa da qual a sua tia é empregada. Traçado todo o sofrimento nos primeiros dez minutos de filme, nos seguintes Angel consegue o reconhecimento de um editor, e faz um sucesso estrondoso.

Daí em diante, a primeira hora de filme é isso mesmo: linguagem de desenho animado, interpretação, trilha sonora e fotografia de dramalhão. Tudo faz crer estarmos assistindo a um desenho animado da Disney. Só uma coisa destoa: Angel se torna a cada minuto mais insuportável. Imersa em suas fantasias, compra a sonhada Mansão Paraíso e escolhe a dedo um príncipe encantado. E é assim que o mundo mágico de Angel vai sendo construído na frente do espectador, e todos os recursos técnicos corroboram para o conto de fadas.

Até que - finalmente! - na segunda hora de filme, o melodrama de François Ozon ganha consistência e o conto de fadas vai ganhando cores de realidade. Começa a guerra, o príncipe encantado pula fora da história e até as brilhantes história de Angel não têm a mesma receptividade. E é aí que o filme vale a pena ser visto: a fantasia fácil é tão irritante que até a realidade - sempre dura - é mais agradável, simplesmente por ser real.

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