
Para o nosso desejo
Dentro ou fora de um vício?
Uns preferem dinheiro
Outros querem um passeio
Perto do precipício.
Haverá paraíso
sem perder o juízo e sem morrer?
(Paradeiro, Arnaldo Antunes)
Na Inglaterra da década de 30, Briony, adolescente aristocrata com vocação para literatura (e para fantasia) constrói, a partir de seu sentimento que mistura amor e ciúmes por Robbie (o filho da governata) e por Cecília (sua irmã), histórias a partir do que vê - e, sobretudo, do que deseja ver.
É com base nesta sua visão deturpada da realidade que a protagonista toma a decisão que determinará o seu futuro e daqueles que a circundam: acusa Robbie de haver estuprado uma prima que passava uma temporada em sua casa, o que implica a prisão do rapaz e seu posterior alistamento às fileiras de soldados ingleses.
"Haverá paradeiro para o nosso desejo?", pergunta Arnaldo Antunes. É o que Ian McEwan investiga na obra que inspira o filme, "Atonement". A tradução para o português, ao menos no título, prezou pela inteligência. O acréscimo de "Desejo" à "Reparação" do original inglês é adequado à trama.
O caminho da redenção buscado por Briony foi a arte. É na literatura que ela encontra vazão para a necessidade de reparar o ato irresponsável praticado na adolescência. E é aí que se casam o best-seller de McEwan e a direção de Joe Wright. As seqüências megalomaníacas da guerra - que, a princípio, causaram incômodo a mim - mostram-se correspondentes à imaginação de Briony, que divide a autoria do roteiro com o próprio McEwan.
Uma crítica à versão nacional: mais uma vez, os tradutores brasileiros - a quem até elogiei acima - pecam pela síndrome do politicamente correto. Rosana Pasquale traduz "cunt", verbete dos mais pesados em inglês britânico, para "vagina". Primeiro problema: "cunt" significa "boceta". Segundo: é a força da palavra - propositalmente vulgar - que desencadeia uma série de conflitos no filme. Os puritanos tradutores brasileiros de fato acreditam que "fuck off" significa "dane-se"?
Vale o ingresso e a reflexão sobre as conseqüências das ações que tomamos em nome do desejo (ou das que deixamos de tomar). Recomendo a excelente resenha de Contardo Calligaris sobre o filme, publicada na Folha de São Paulo, e disponível na internet.
2 comentários:
Engraçado, tb ia te chamar pra ser correspondente internacional do aMenas coisas! Topa?? Adoraria escrever para o Criticas de Leigo! (O nome eh massa! Mas NINGUEM MERECE o biquinho de Keira Knightley...)Me diga qual eh o melhor dia hora pra te ligar pelo Skype. Quero botar os babados em dia!
Bjk
Eita, vi o endereço do teu blog no orkut de Mari. O filme de fato é muito bom. E merece o elogio referente à direção de arte. Quase todas as cenas são lindas, e a imagem de McAvoy no cinema é deslumbrante. Só concordo com a tua amiga que os biquinhos de Keira são um saco. Acho ela meio fraquinha, mas no caso, não chega a comprometer.
Saudades.
=*
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