quarta-feira, 12 de março de 2008

Crítica de cinema: Sicko - $O$ Saúde



Para americano ver


Assistir a SICKO é como conversar com alguém que o trata como um imbecil. Todas as conclusões estão postas e o recurso ao discurso simplório e maniqueísta (tipicamente americano, aliás) é freqüente. Falta a Michael Moore um pouco de sutileza.

Trata-se de um documentário sobre o sistema de saúde norte-americano. Moore, que afirma serem os EUA o "único país ocidental em que os cidadãos não têm amplo acesso à saúde", revela o funcionamento inescrupuloso das seguradoras de saúde e a conjuntura política que levou a maior potência mundial a optar por um sistema prioritariamente privado nesta área.

O tom do documentário é de deboche do começo ao fim. Se isto já deixa de ser engraçado e logo torna-se incômodo, o que mais irrita é a simplificação absoluta do discurso. Ao fim do filme, Moore não só propõe como conclui ele mesmo: os EUA são o inferno, em contraposição a paradisíacas Cuba, França e Grã-Bretanha, onde o acesso à saúde é universal.

Os personagens de Moore são rasos e superficiais. Como ele. Todos servem à causa da luta contra as seguradoras de saúde, mas a sua opção política e trajetória de vida são ignoradas.

João Moreira Salles, em ensaio publicado na Bravo (fevereiro, 2008) afirma que Michael Moore contribuiu decisivamente ao gênero dos documentários sociais, acrescentando-lhe humor. Deve ser verdade. Mas como bem sabe o cineasta brasileiro, que, com brilho, fez seu mea-culpa no imperdível Santiago, os entrevistados são bem mais do que aquilo que queremos que eles sejam. E é isso que os torna interessantes.

Duas horas não são suficientes para que consideremos um filme longo. Com Sicko, isso acontece. E a razão é simples: o gênero e o discurso de Moore se prestam antes ao horário eleitoral da TV do que às grandes telas.

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